Nascido
numa família pobre de Porto Franco, no Maranhão, Júlio Santana tinha tudo para
se tornar pescador, como seu pai. Júlio levava uma vida tranquila. Morava com
os pais e seus dois irmãos mais novos, sua única preocupação era caçar para
ajudar na alimentação da família. Coisa que fazia muito bem, pois de tanto
praticar adquiriu uma excelente pontaria.
A
mudança na vida de Júlio começou quando seu tio Cícero, chegou para passar uns
dias em sua casa, coisa que procurava fazer ao menos uma vez por mês.
Cícero
era policial militar na cidade de Imperatriz, no Maranhão. Mas essa era apenas
uma das duas atividades do tio de Júlio. Além de policial, Cícero era também
matador de aluguel, e estava em Porto Franco a serviço, tinha sido contratado
para matar um pescador que morava na região. Cícero iria fazer o trabalho, caso
a malária não o deixasse de cama por dias. Júlio, por ainda ser jovem, e por
admirar muito o tio, era o único a quem Cícero poderia contar aquele segredo e
pedir para fazer o trabalho em seu lugar.
E
foi isso que aconteceu. Depois de muito protestar e negar,Júlio não teve
escolha, teria de matar o pescador.
Júlio
tinha apenas 17 anos de idade, quando fez sua primeira vítima, o pescador havia
abusado sexualmente de uma garotinha de 13 anos. O mandante do crime foi o pai
da menina, a qual contratou Cícero, o policial militar tio de Júlio, mas quem
acabou fazendo o serviço foi Júlio.
De
acordo com o livro do jornalista e escritor recifense Klester Cavalcanti “O NOME DA MORTE” a qual narra toda a
história, uma das justificativas que o tio deu ao sobrinho foi a seguinte: “se
você não fizer o serviço, quem vai acabar morrendo sou eu. (…) nesse negócio é
assim. Depois que a gente recebe o dinheiro, tem de fazer o serviço. Senão,
quem acaba assassinado é o próprio pistoleiro. Você quer que eu morra?” Outra
justificativa foi esta: “se eu não fizer esse trabalho, com certeza vai
aparecer gente para fazer. Ou seja, o infeliz vai morrer de qualquer jeito.
Assim, pelo menos eu ganho um dinheiro a mais.”
A
frieza do tio assustava Júlio. Mal sabia ele que, anos depois, seria ele o mair
matador de aluguel do Brasil, se não o do mundo.
Júlio
antes de torna-se um matador profissional, participou de um episódio importante
na História recente de nosso país: a guerrilha do Araguaia. No início de 1972
Cícero perguntou a Júlio se ele não gostaria de ganhar dinheiro servindo de
guia para os militares do exército que estavam à caça de comunistas que se
escondiam no meio da selva amazônica. Na época, o jovem Júlio se via às voltas
com uma namorada, a Ritinha, e um dos argumentos do tio foi o de que com o
dinheiro que Júlio ganharia por esse trabalho, ele poderia dar início ao plano
de se casar com a garota. Depois de muito dizer “não” ao tio, mais uma vez
Júlio acabou cedendo, e partiu para a cidade de Xambioá (TO), no então estado
de Goiás na época.
Em
Xambioá, Júlio guiou o grupo formado pelo delegado Carlos Marra e mais quatro
homens. Esse grupo, muito graças à experiência de Júlio dentro da selva,
capturou um dos guerrilheiros mais famosos do país: o ex-presidente do Partido
dos Trabalhadores, José Genuíno.
Ao
retornar a Porto Franco, Júlio vai ao encontro de Ritinha. Mas o jovem fica
desolado e revoltado ao saber que a garota estava com outro namorado. A
desilusão amorosa contribui muito para a
mudança definitiva de Júlio, que poucos dias depois vai para Imperatriz morar
com o tio. É aí que tem início sua carreira de assassino, quando seu tio Cícero
o convence de que o trabalho não é tão ruim quanto parece, e que renderia uma
boa grana, daí em diante, Júlio não parou mais de matar.
FILME
O
Nome da Morte conta a história real de Júlio Santana, o matador de aluguel que
assassinou 492 pessoas. Diferente dos serial killers retratados no cinema,
Santana não é um psicopata ou um personagem de ficção guiado pelo mal, que
comete crimes espetaculares. Ele é um homem calmo, caseiro, religioso, bem‐humorado, carinhoso com a
mulher e com os filhos. Uma pessoa aparentemente comum, mas que durante muito
tempo guardou um segredo: por 35 anos viveu para matar. Baseado no livro ‘O
NOME DA MORTE’ do jornalista e escritor recifense Klester Cavalcanti.
Estreia:
02/08/2018
LIVRO
O
Nome da Morte, escrito pelo jornalista Klester Cavalcanti. O jornalista,
durante sete anos manteve contato com o matador por telefone, para escrever o
livro. Na obra, Júlio Santana conta detalhes de seus crimes, inclusive nomeando
os mandantes. E mesmo com toda essa trajetória, Júlio Santana diz só ter sido
preso uma única vez em todos esses anos. E foi solto no mesmo dia. De acordo
com o jornalista, Júlio foi preso uma vez em toda a vida, foi na cidade de
Tocantinópolis, no Tocantins. Segundo ele Júlio tinha acabado de matar uma
mulher, a mando do marido. Quando estava saindo do local do crime, ele foi
apanhado pelos vizinhos (que tinham ouvido gritos e tiros) e acabou preso. Já
na delegacia Júlio teria dado a moto que ele tinha, ao delegado, para ser liberado.
A
entrevista foi realizada de 1999 a 2006. O jornalista conta que precisou de
paciência e calma para ganhar a confiança do pistoleiro. De acordo com o
jornalista, Júlio Santana não queria nem o seu nome real e nem a foto devulgada
no livro. A autorização só foi concedida
sete anos após, e o que seria uma matéria virou um livro.
De
acordo com relatos do jornalista, Júlio sempre se mostrava arrependido depois
de todos os crimes, por ser católico, e crê em Deus. Mesmo sabendo que o que
ele fazia era errado, e com medo de ir para o inferno, sempre quando matava
alguém, fazia uma oração pedindo perdão a Deus.
Um
dos crimes que mais chamou atenção do jornalista, foi de um garoto de 13 anos,
que Júlio matou no Pará. Esse garoto era
filho de um casal de trabalhadores escravos que haviam fugido de uma fazendo no
interior do Pará. Para forçar o casal a voltar para a fazenda e continuar
trabalhando como escravos, o dono dessa fazenda contratou Julio para matar o
filho mais velho do casal, um menino de 13 anos, que foi morto com um tiro na
cabeça, a queima-roupa. Após o crime, o seguinte recado foi enviado aos pais:
“Ou vocês voltam para a fazenda ou eu mando matar seu outro filho”
Isso
é apenas um pouco da história que Klester Cavalcanti conta em seu livro O nome
da morte. Afinal, quem imaginaria que hoje, em algum lugar do nosso Brasil,
vive um homem que por 35 anos viveu de matar pessoas?
O
nome dele é Júlio Santana. E ele pode ser seu vizinho.
Site Enquanto isso no Maranhão
0 comentários:
Postar um comentário